A Afetividade na Formação Docente

As legislações pertinentes à educação no Brasil contemplam a importância e indispensabilidade da afetividade nas relações educacionais. Encontra-se que uma educação de qualidade deve desenvolver as capacidades cognitivas, mas também as afetivas. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, expressa-se a necessidade da transmissão de conteúdos conceituais e de conteúdos atitudinais. Sendo que estes últimos permeiam todo o conhecimento escolar. Ainda é possível verificar que ensinar e aprender atitudes requer um posicionamento claro e consciente sobre o que e como se ensina na escola. Os Parâmetros Curriculares Nacional afirmam que a aprendizagem de valores e atitudes é de natureza complexa e pouco explorada do ponto de vista pedagógico. Alerta para uma prática constante, coerente e sistemática, em que valores e atitudes sejam expressos no relacionamento entre as pessoas que fazem parte de todo o processo educacional.
A lei Nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que trata sobre o Plano Nacional de Educação (PNE), em seu artigo 2º, inciso IV, traz que uma de suas diretrizes é a melhora na qualidade da educação e em seu inciso V, a formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamentam a sociedade. Assim, é inconcebível pensar em um processo de ensino-aprendizagem unilateral. O professor é o agente que ensina com seu conhecimento técnico, didático e pedagógico, mas que ensina com sua postura, atitudes, gestos, palavras e exemplos. Desta forma, faz-se necessário compreender a importância da afetividade na relação professor-aluno, haja vista estudos e pesquisas sobre este assunto, que demonstram sua importância e efetividade na aprendizagem. E assim compreender e desenvolver durante a formação do professor disciplinas que contemplem a educação emocional e sua aplicação no processo ensino-aprendizagem.
Uma das necessidades básicas do ser humano é ser amado. Os sujeitos querem ser reconhecidos uns pelos outros. Reconhecer o outro, valorizar suas iniciativas e conhecimentos contribuirá no processo de ensino e de aprendizagem. Porém, pode ser observado que, não podemos afirmar se por negligência ou falha na formação, os professores preocupam-se com seus conhecimentos e habilidades didático-pedagógicas e esquecem-se da importância da afetividade. Proporcionar condições para que o professor considere seus alunos em toda sua complexidade como pessoa, despertará interesse, comprometimento e engajamento por parte de seus alunos.
O processo ensino-aprendizagem foi e tem sido objeto de estudo e observação por parte de pesquisadores. Como facilitar, favorecer, melhorar o processo de ensino é discutido e pesquisado por professores e estudiosos desta área. Trata-se de um processo que está intimamente ligado a outro processo, que é o da aprendizagem. Como possibilitar e efetivar a aprendizagem é uma questão que envolve a vida do ser humano, em especial no setor educacional. Como as pessoas aprendem, as condições necessárias para aprender e o que as pessoas aprendem e ainda, o que fazem com o que aprendem, são questões pesquisadas e ligadas ao interesse educacional, social, político e sobretudo, humano.  
Em uma sociedade na qual as informações estão disponíveis a todos e a uma velocidade muito rápida, as pessoas estão apressadas e dificultam a formação de vínculos por onde passam. Contudo, possuímos necessidades básicas e necessidades de pertencimento, amizade, amor, de estima, respeito, que podem ser exploradas pelos agentes da educação. Proporcionar uma aprendizagem para a vida pode propiciar um conhecimento duradouro e eficaz. O professor que de fato se preocupa com o crescimento como pessoa de seus alunos, fará da aprendizagem um processo prazeroso e inesquecível, e poderá contribuir para o desenvolvimento de homens e mulheres melhores. Preparar os professores para que em seu trabalho sejam levados em consideração, o conhecimento dos alunos, suas questões afetivo-emocionais, suas habilidades e suas atitudes e valores, pode proporcionar um melhor sistema educacional e de ensino.
Atualmente tem se discutido sobre a perda da autoridade de professores em sala aula, sobre evasão escolar, sobre conflitos e até mesmo crimes em sala de aula. Pesquisas demonstram que boa parte dos professores são afastados por transtornos como a depressão, síndrome de Burnout, ansiedade, síndrome do pânico. Sem considerar a questão poética envolvida, o amor, a empatia, a atenção, a compreensão, o carinho, contribuem para o melhor desenvolvimento das relações humanas. Assim, dotar nossos professores desta afetividade, pode prevenir conflitos, crimes, evasão, doenças e transtornos e ainda facilitar o ensino e a aprendizagem.
A falta de compreensão das individualidades, de amor e de carinho, a falta de empatia, de respeito constituem-se impedimentos da aprendizagem. Ratificar a importância das relações afetivas na relação professor-aluno e possibilitar este conhecimento durante a formação docente, trará contribuições para a compreensão do processo ensino-aprendizagem e oferecerá possibilidades para tornar o caminho da educação, mais suave.
Deste modo, o entendimento e o desenvolvimento da afetividade na formação docente torna-se relevante para que melhores profissionais sejam responsáveis pela educação. Para que também possa ocorrer a promoção da saúde entre os professores e alunos e para que o ambiente de aprendizagem seja um local de alegria, paz, harmonia e desenvolvimento humano. Proporcionar a compreensão de que em qual momento a afetividade é negligenciada, se na formação, ou durante o exercício da docência, pode contribuir para que currículos de cursos de formação de docentes sejam aperfeiçoados e/ou programas de educação continuada de professores cuidem desta necessidade.
Além da competência no saber, de seus conhecimentos, de suas habilidades técnicas, de suas habilidades didático-pedagógicas, temos que atentar para as relações afetivas entre professor e aluno. A dimensão afetiva pode ser negligenciada muitas vezes nos currículos dos cursos de licenciatura, bem como na prática docente propriamente dita. Além do conhecimento, domínio de técnicas didáticas, metodologias, a tarefa do professor está repleta de conteúdos implícitos, como o relacionamento com o aluno, a identificação de dificuldades, a percepção do contexto, que muitas vezes são esquecidos. O professor deve considerar seus alunos em toda sua complexidade como pessoa.
O processo de aprendizagem será melhor realizado à medida que o professor faz de sua aula um momento interessante e significativo. A interdisciplinaridade, o uso de tecnologias, a criação de um espaço de desenvolvimento da aprendizagem e a pesquisa, inseridos em uma aula, despertam interesse nos alunos e facilita a apreensão dos conteúdos. Neste ponto, voltamos à contextualização, pois o conteúdo a que se propõe ensinar deve estar ligado a outros conhecimentos, fazendo sentido e trazendo significado ao aluno. Bons professores dão significado aos seus ensinamentos e conduzem a pessoa com todas as suas dificuldades e habilidades a um nível mais elevado. Não basta ser um técnico excelente, é necessário que o profissional possua a sensibilidade de considerar as questões afetivo-emocionais, as atitudes, os valores, as relações, as dificuldades, os medos, as expectativas. Assim provavelmente, este professor fará de sua aula um ambiente de aprendizagem e troca de conhecimentos, levando seus alunos ao crescimento pessoal. Seguindo neste entendimento, torna-se necessário aprender a lidar com a dimensão afetiva como se aprende a lidar com outros aspectos de natureza cognitiva.
Encontramos estudos que confirmam e contribuem com a compreensão da importância da afetividade na relação professor-aluno. Pesquisas que revelam que as relações afetivas são relevantes e preponderantes no processo ensino-aprendizagem. Contudo, faz se necessário, o aprofundamento de discussões sobre a afetividade na formação de professores, diante de sua notória importância. Ao pensar na formação do professor, temos que pensar na formação da pessoa, e a afetividade é parte inerente e indispensável no desenvolvimento e crescimento humano. Dada sua relevância, precisamos buscar entender em que momento da formação do professor as relações afetivas são tratadas e desenvolvidas, visando a melhoria do trabalho docente e do processo ensino-aprendizagem. Pesquisar se os currículos dos cursos de licenciatura e de docência, contemplam a importância de uma formação afetiva dos professores. Entender em que momento essa atenção afetiva foi perdida, se na prática em sala de aula, ou durante a formação, é um ponto relevante para o sucesso do processo ensino-aprendizagem.

REFERÊNCIAS:
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional – LDB. Brasília: Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para assuntos jurídico; 1996. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em 27 ago. 2016.
BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para assuntos jurídicos; 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.htm>. Acesso em 27 ago. 2016.



Marcos Messias da Silva Justiniano
Psicólogo/Palestrante/Docente
(11) 98433-1067

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